21 de agosto de 2020

ASSOCIAÇÃO FILHOS DO PAI ETERNO É ALVO DE OPERAÇÃO DO MP-GO; PEDIDO DE PRISÃO DE PADRE ROBSON FOI NEGADO ANTES DA OPERAÇÃO DE HOJE

Os crimes apurados, até o momento, são os de organização criminosa, apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal. Santuário Basílica do Divino pai Eterno, em Trindade-GO, mantido pela Afipe / Foto: Reprodução

O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Goias deflagrou na manhã desta sexta-feira (21) a Operação Vendilhões, que apura irregularidades relacionadas à Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A entidade é responsável pelo Santuário Basílica de Trindade, cidade na região Metropolitana de Goiânia conhecida como a “capital da fé” no Estado.

Em março, o órgão ministerial chegou a pedir a prisão do padre Robson de Oliveira Pereira, reitor do Santuário Basília e presidente da Afife. Mas a medida foi negada pela Justiça sob a alegação de que o padre é primário e tem bons antecedentes (veja aqui a decisão). Além disso, !os em apuração não foram perpetrados com violência ou grave ameaça e não há nestes autos informações concretas de que, em liberdade, o referido investigado destruirá provas ou intimidará testemunhas e/ou outros integrantes das Afipes, muito menos de que obstará o curso do trabalho investigativo, perturbará a instrução processual ou frustrará a correta aplicação da lei penal!.

Na época, no entanto, foram determinados bloqueios de contas das empresas envolvidas nos supostos desvios de recursos oriundos de doações de fieis. Essas iniciativas antecederam a deflagração da Operação Vendilhões, da qual participam 20 promotores de Justiça, 52 servidores do MP-GO, 4 delegados, 8 agentes da Polícia Civil e 61 policiais militares.

Hoje, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão na sede da Afipe, na Avenida 24 de outubro, em Goiânia, em empresas e residências em Goiânia e Trindade (veja aqui a decisão autorizando as buscas). Os mandados foram expedidos em decisão da Juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais.

Padre Robson é presidente das Afipes. Foto: Reprodução

Para justificar as buscas, o MP mencionou que o padre Robson criou várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome, e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, assumiu o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes. Elas são voltadas para à evangelização por meio da TV, para obras sociais e para a construção da Nova e Definitiva Casa do Pai, em Trindade e que, para isso, recebem doações de pessoas de todo o Brasil, tendo movimentado aproximadamente R$ 1,7 bilhão até dezembro de 2018.

Segundo as investigações, apesar dos objetivos declarados, existem indícios de que parcela dos valores doados em favor das causas defendidas pelas Afipes foram e estão sendo desviados em benefício de terceiros. O órgão ministerial apontou que as movimentações financeiras e patrimoniais das Afipes causam estranheza e merecem uma análise mais
acurada, sob o ponto de vista criminal, pois existem fortes indícios da prática de crimes de apropriação indébita e lavagem de capitais praticados pelos seus diretores, por ordem do presidente de todas as Afipes, o Padre Robson.

Foi apurado que o religioso pagou R$2.930.000,00 a terceiros que ameaçavam divulgar informações sobre sua vida pessoal. Uma funcionária da Afipe é apontada como braço direito do padre. Ela teria participação ativa nos pagamentos feitos com dinheiro das Afipes para a manutenção do sigilo das informações de interesse do padre Robson, pontuando que ela participou da reunião em que se decidiu pelo pagamento dos valores exigidos e pelo atendimento das determinações dos envolvidos, levando dinheiro em espécie aos locais indicados, além de que teria realizado as transferências bancárias em prejuízo das associações.

Também descreveram que foram efetuadas inúmeras operações entre as associações e pessoas jurídicas ligadas a políticos da cidade, do ramo de comunicação. Nestas operações imobiliárias, disseram que constataram a ocorrência de reiterados prejuízos às Afipes. Além disso, essas empresas teriam efetuado transferência mais de R$ 120 milhões para uma rede de postos de combustíveis, tudo com o objetivo de lavagem de dinheiro. O dono da rede teria, segundo o MP, feito inúmeras transações imobiliárias com as Afipes. Além disso, imóveis teriam sido transferidos para a empresa. O padre também é investigado por ter usado recursos das Afipes para compra de fazendas.

 

 

Escrito por: Redação/Rota Jurídica