12 de outubro de 2018

Vanderlan Cardoso: 'Não farei oposição só por oposição. Nunca foi meu perfil'

Vanderlan Cardoso (PP), senador eleito por Goiás. Foto: Reprodução

Eleito senador mais bem votado deste pleito, Vanderlan Cardoso (PP) diz que, embora o MDB, partido com quem se coligou, deva fazer oposição ao governador eleito Ronaldo Caiado (DEM), ele não fará “oposição por oposição” e afirma que o momento é de “dar as mãos”.  Em entrevista concedida ao Jornal O Popular na última terça-feira, 09 de outro, Vanderlan disse que já conversou com Caiado por telefone e que aguarda o presidente de seu partido, ministro Alexandre Baldy, para marcar uma reunião com o democrata.

A que atribui a vitória?

Termos participado de outras eleições, como governador por duas vezes e, recentemente, à Prefeitura de Goiânia. Também fizemos boa gestão em Senador Canedo por dois mandatos. O conhecimento nosso ajudou muito, mas também as propostas que foram apresentadas e acho que o eleitor agradou. O País precisa de reformas e de uma quebra de monopólio, embora disfarçados no Brasil, e geração de emprego e renda.

Cientistas políticos e marqueteiros afirmam que, de maneira geral, os candidatos não apresentaram muitas propostas nesta campanha. Como o avalia isso?

Acho que todas as propostas que apresentamos vão ao encontro do que a população quer: geração de emprego e renda, as reformas que o País precisa, quebra de monopólio. O Brasil precisa ter concorrência, por exemplo, para a Petrobras, sobretudo em relação ao gás de cozinha e aos combustíveis. Quando falo de geração de emprego e renda, trata de um conjunto de ações que precisa ser feito, por exemplo, cumprir o que foi assinado nos acordos de investimentos com grupos estrangeiros que vêm ao Brasil. Não pode haver quebra de contratos e isso vale para nosso Estado, que inibe investimentos quando quebra contratos. Muitos investidores estão saindo de Goiás por isso. É preciso ter um ambiente favorável no País para que haja investimentos e o Estado precisa encarar esses investidores como aliados e não adversários, como é hoje.

Adversários como?

Essa carga tributária que temos hoje é humanamente impossível de ser suportada pela população e por quem gera emprego e renda. Em média 53% do preço da gasolina vem de imposto. Então, falo de limitar os impostos nos combustíveis. Já ficou provado que imposto alto não é o que resolve. O que funciona é gestão e planejamento. Além disso, o governo central não pode mais querer ficar com todos os recursos. Temos que rever o pacto federativo para que haja melhor divisão dos recursos arrecadados através dos impostos. Os municípios precisam ficar com a maior parcela, depois Estados e, por último, a União. É nos municípios que as pessoas precisam de condições favoráveis para viver. Essa será minha defesa para tirar o País dessa situação. Da porteira para dentro, o Brasil é de primeiro mundo, mas da porteira para fora, somos de quinto, sexto mundo. Estamos muito atrasados em relação a outros países que investiram em infraestrutura.

O sr. faz referência ao agronegócio. E a indústria? O setor sofreu redução em muitos Estados e apresenta estagnação no comparado com os outros anos. Será um foco seu?

Temos que aproveitar o potencial de cada cidade, região, e fazer os investimentos e dar incentivo à qualificação profissional. Temos que levar o desenvolvimento às regiões que têm menos atenção. O Entorno de Brasília, o Nordeste, o Oeste e o Norte são regiões esquecidas. Eu nasci em Iporá, que há 25 anos era o terceiro de participação no PIB; hoje, é o penúltimo. Isso ocorre porque não foi feito nenhum projeto de melhoria nessas regiões. Defendo a regionalização. Não há segredo em gerar emprego e renda; o que falta é vontade política para que isso aconteça. Goiás tem perdido empresas para outros Estados e está na contramão. O próximo governador, Ronaldo Caiado, tem que, além de buscar ter segurança jurídica para que os investidores que vierem tenham segurança para levar seus projetos à frente e industrialize seus produtos aqui. É melhor exportar produtos com valor agregado do que in natura.

O ex-governador Maguito Vilela disse que o MDB, partido com o qual o sr. compôs chapa, será oposição a Caiado. Como será sua relação com o governador eleito?

Sempre tive posição política de independência. O que for favorável e for ao encontro do que penso, vou apoiar; agora, o que vá de encontro com o que penso, vou colocar meu posicionamento. Não vou fazer oposição por oposição. Não é meu perfil. Tenho partido e vamos nos reunir para ver como nos posicionaremos. Ainda não falamos com o governador eleito, mas o momento agora é de todos darmos as mãos para tirar o Estado de uma situação que não terá bons desdobramentos, e que trata da questão fiscal. Não vou fantasiar nada em relação ao Estado porque o que está por vir demandará remédios amargos e o governador terá que ter pulso. E todas as medidas que visarem sanar as finanças do Estado e gerar emprego e ambiente para investimento, eu vou apoiar.

Alguma área que demanda atenção, fora a geração de empregos?

A saúde é um caso sério. Sempre fui contra o sistema de OSs (organizações sociais) que foi implantado no Estado. A saúde tinha uma estrutura montada e foi desmanchada. Será um desafio para o próximo governador. Como não deixar parar a saúde do Estado de Goiás.

Nos bastidores, chegou-se a falar de um apoio do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) ao senhor em determinado momento da campanha, inclusive com reuniões promovidas por aliados do tucano em seu favor. Como se deu essa relação?

Tive apoio de candidatos em todos os projetos majoritários. Tanto do Daniel quanto do governador José Eliton e também do ex-governador Marconi. E tinha muitos lugares que apoiavam a ele e a mim, até mesmo pelos embates entre ele a senadora Lúcia Vânia. Então, muitos optaram por me ajudar. Era comum ir numa carreata nossa e ver apoiadores de Ronaldo Caiado, José Eliton e, como eram duas vagas para senador, apoiavam a nós também. Foi uma eleição um pouco atípica e eu não tenho inimizade com ninguém. Parte dos candidatos a deputado que nos apoiaram eram de outros projetos majoritários.

O sr. foi apoiado pelo grupo governista na eleição para a Prefeito de Goiânia em 2016. Como avalia a perda de mandatos da base aliada?

Vejo isso com certa naturalidade. São 20 anos, então, até mesmo pelo momento, o povo quis eleger novas pessoas. Esse clamor já vinha há algum tempo e isso contribuiu para novos projetos.

Como se posiciona em relação ao segundo turno dos presidenciáveis?

Já tenho meu posicionamento, mas não vou atropelar meu partido. Se a posição do partido for a mesma que a minha, ok. Se não, vou pedir licença para discordar.

Em caso de vitória de Fernando Haddad, como acha que o Congresso eleito, que é muito conservador, agirá?

O Brasil é um País conservador. Tivemos, durante o governo do PT e com Fernando Haddad ministro da Educação, ações que foram em desencontro ao que pensa a maioria esmagadora dos brasileiros. Acho que ele terá muita dificuldade, se não mudar seu posicionamento em relação a alguns pontos.

Escrito por: Redação/Entrevista concedida ao Jornal O Popular do Grupo Jaime Câmara