4 de outubro de 2018

URGENTE: escutas da PF mostram conversas sobre entrega de mais de R$ 1 milhão em propina para campanhas de Marconi Perillo

Escutas da PF revelam entrega de mais de R$ 1 milhão em propina para campanhas de Perillo.

Escutas da Polícia Federal presentes no inquérito que culminou a Operação Cash Delivery, obtidas pela TV Anhanguera, mostram conversas entre funcionários do doleiro Álvaro José Novis, um dos delatores da Lava Jato, e um motorista de Jayme Rincón, um dos cinco presos na ação que mirou endereços ligados a Marconi Perillo(PSDB). Segundo a corporação, o diálogo revela a entrega de R$ 1,2 milhão em propina da Odebrecht para campanhas de Perillo em 2010 e 2014 (veja abaixo).

A transcrição da conversa é, segundo a PF, um diálogo entre Márcio Garcia de Moura – policial militar e motorista de Rincón, também preso na Operação Cash Delivery – e um homem identificado como Márcio, que, conforme a corporação, também é PM e funcionário do doleiro Álvaro José Novis.

  • Moura: Aí veio 3 mensageiros seus. É isso mesmo?
  • Márcio: É, um levou 7 e outro levou 5, Né?
  • Moura: Então tá certo, né?
  • Márcio: Isso. Aí faz um ponto dois. [segundo a PF, ele se refere a R$ 1,2 milhão de reais]

A defesa de Marconi Perillo informou à TV Anhanguera que o ex-governador foi liberado pela Polícia Federal para prestar depoimento só após as eleições. A defesa já havia dito, na última sexta-feira (31), que não há provas dos fatos citados pelo delator e que eles se referem a questões antigas, sem qualquer indício contra Perillo.

Os advogados de Jayme Rincón e do filho dele disseram à emissora que estão trabalhando no caso e não vão comentar o assunto por enquanto. Jayme, que até então era presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop), após a prisão teve o cargo substituído pelo atual Procurador-Geral do Estado, Luiz Cesar Kimura.

O site do G1 em Goiás e a TV Anhanguera tentaram contato com o advogado do PM Márcio Moura, mas as ligações e mensagens não foram retornadas até a última atualização desta reportagem.

 Em um dos trechos do inquérito, a polícia diz que, segundo versão apresentada por colaboradores, Marconi Perillo, que é candidato ao Senado Federal atualmente, teria dito ao executivo da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, que ele esperasse uma contribuição “do tamanho da Odebrecht”, em Goiás.

No inquérito consta que Marconi, ao solicitar os valores para suas campanhas, se mostrava favorável às demandas da Odebrecht em Goiás, como, por exemplo, na construção do VLT, que não saiu do papel, além de obras de esgoto no Entorno do Distrito Federal.

Conforme apurou a TV Anhanguera, apesar da suspeita de envolvimento de Marconi Perillo no esquema, a Justiça Federal não pediu a prisão dele por conta da Lei Eleitoral, que proíbe a prisão de candidatos 15 dias antes do pleito, exceto em casos de flagrante.

O ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) — Foto: Murillo Velasco/G1

Entrega do dinheiro

Segundo as investigações, os PMs eram responsáveis por pegar o dinheiro de propina em São Paulo. O pagamento de R$ 1,2 milhão teria sido entregue na Rua Hadock Lobo, na capital paulista, onde, conforme a PF, fica o apartamento onde mora o filho de Jayme Rincón, Rodrigo Rincón, um dos presos da Operação Cash Delivery.

Em uma das conversas, o motorista do doleiro liga para um outro motorista de Jayme Rincón, identificado como Sérgio, para confirmar o endereço do apartamento onde faria a entrega de “encomendas”, que, segundo a PF, tratava-se de propina.

 
  • Márcio: Oi, Sérgio. Meu nome é Márcio. Tudo bom?
  • Sérgio: Tudo joia!
  • Márcio: Tudo bem. Eu tenho umas encomendas aí para te entregar. Só confirmando contigo. Aí é 1259, 72 né?
  • Sérgio: 1259, 72 [segundo a PF, trata-se do número do prédio e apartamento Rodrigo Rincón]
  • Márcio: Aguarda aí que já estão caminhando para aí, está bom?
  • Sérgio: Tudo bem!

Além das gravações telefônicas da empresa de Novis, a Polícia Federal teve acesso a conversas via Skype, ligações de celulares e passagens aéreas dos PMs, que, segundo a corporação, saíram de Goiânia supostamente para buscar o dinheiro em São Paulo.

A Justiça Federal concedeu, na quarta-feira (3), um habeas corpus para que Rodrigo Rincón seja colocado em liberdade, mas o mesmo não havia sido cumprido até a publicação desta reportagem. Conforme decisão, mesmo que se confirme a autoria dos crimes, não há indícios de que Rodrigo, em liberdade, possa atrapalhar as investigações. Segundo o desembargador, além disto, faltaram requisitos para manter a prisão temporária dele.

Tabela que mostra supostos repasses de propina ao ex-governador Marconi Perillo — Foto: Reprodução/TV Globo

 

Prisões

Cinco pessoas foram presas durante a operação, deflagrada na última sexta-feira (28). Além de Jayme Rincón, Márcio Garcia de Moura – policial militar e motorista de Rincón – tiveram a prisões temporárias convertidas em preventivas, ou seja, por tempo indeterminado.

Já nos do empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior e do engenheiro civil e filho de Jayme, Rodrigo Godoi Rincón, a prisão temporária foi prorrogada por mais cinco dias.

Somente o advogado Pablo Rogério de Oliveira foi solto.

Todos os envolvidos sempre negaram envolvimento com o suposto esquema criminoso. A operação investiga o recebimento de propina de R$ 12 milhões durante as duas últimas gestões de Perillo à frente do governo do estado, em troca de favorecer empreiteiras em contratos.

No pedido para autorização dos mandados, a PF afirmou que não solicitou a prisão de Perillo por causa da lei eleitoral. A legislação determina que candidatos não podem ser presos 15 dias antes do pleito, a não ser em flagrante. Esse prazo começou a contar no dia 22 de setembro.

A Polícia Federal convocou o ex-governador para prestar esclarecimentos sobre as investigações. Porém, a defesa pediu que isso acontecesse após as eleições. Durante a operação, os celulares de Marconi Perillo e da esposa, além do computador da filha, foram apreendidos.

Jayme Rincon é preso em operação da Polícia Federal, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/ TV Anhanguera

Investigações

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Perillo, quando ainda era senador e depois como governador, pediu e recebeu propina para favorecer a Odebrecht em contratos e obras. Os valores, segundo as investigações, foram de R$ 2 milhões em 2010 e R$ 10 milhões em 2014.

Na denúncia, Marconi Perillo é citado como líder do esquema. Jayme Rincón é apontado como braço-direito do ex-governador, responsável pela entrega do dinheiro solicitado pelo político. O filho de Jayme, Rodrigo Rincón, teria colaborado diretamente com o recebimento do dinheiro, tendo sido beneficiário de parte dos pagamentos.

Além disso, os policiais militares Sergio Rodrigues de Souza (falecido) e Márcio Garcia de Moura teriam transportado o dinheiro conforme pedidos de Marconi, assim como Pablo Rogério de Oliveira e Carlos Alberto Pacheco Junior.

Ao todo, foram cumpridos 14 de busca e apreensão. A ação ocorreu em cinco cidades – Goiânia (GO), Pirenópolis (GO), Aruanã (GO), Campinas (SP) e São Paulo (SP). Foram apreendidos R$ 80 mil na casa de Jayme Rincón. Outros R$ 940.260, na casa do motorista dele.

De acordo com as investigações, a propina era entregue em dinheiro em espécie e transportada em malas e mochilas. O MPF apontou que houve ao menos 21 entregas do dinheiro irregular em 2014 feitas a mando da Odebrecht para favorecer Perillo.

Também segundo o MPF, os indícios colhidos nas apurações mostram que Perillo atuava como chefe do grupo e Rincón era braço direito dele.

O policial militar e motorista Márcio Garcia de Moura (de cinza) e Jayme Rincón (branco) durante audiência de custódia em Goiânia; eles foram presos na Operação Cash Delivery — Foto: Paula Resende/G1

Escrito por: Redação/Fonte: G1 Goiás/TV Anhanguera