23 de fevereiro de 2022

PETRÓPOLIS: ‘MAMÃE, ME ABRAÇA QUE A GENTE VAI PARA O CÉU JUNTAS’, DISSE MENINA EM CASA INUNDADA

Foto: Reprodução

Qual é o limite da força de uma mãe que busca salvar a vida dos filhos? No caso da dona de casa Monique Mendonça Terra, moradora da Rua Paulista, no bairro da Castelânea, é impossível mensurar. Uma das vítimas da tragédia que atingiu a cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ela sobreviveu a um soterramento e teve forças para tirar cinco filhos, um a um, de dentro de uma casa que estava sendo tomada pela lama e desabava em cima da família, para depois levá-los por dois telhados e muros altos, salvando todos.

Na terça-feira da semana passada, Monique estava no quarto da casa com cinco de seus oito filhos — Maria Isabella, de 13 anos, Marcos, de 7, Isis, de 6, Lia, de 3, e a bebê Manuella, de apenas 8 meses — quando começou o temporal que provocou dezenas de mortes e destruição na cidade. Preocupada, ela abriu a porta da cozinha e se assustou com o volume de água. Ela foi verificar a situação de um vizinho, surdo e mudo, quando o marido a alertou sobre a lama que já deslizava do morro. Em desespero e tentando fugir, eles viram a casa da vizinha, uma senhora que morreu abraçada com o neto, desabar. Seu primeiro pensamento foi o de qualquer mãe:

— Onde estão meus filhos?

Todos, inclusive vizinhos da parte alta, haviam se dirigido para a casa do tio de Monique, que ficava logo abaixo. Nesse momento, uma árvore caiu na entrada da casa, bloqueando a única saída e desviando o rio de lama, que descia da encosta e passou a inundar completamente o imóvel. Nesse momento, quando o nível da lama ia subindo, o desespero bateu em toda a família.

— Esse foi o pior momento. Nós escutamos a nossa casa cair. A minha filha de seis anos me abraçou e falou “mamãe, vamos ficar abraçadas que a gente vai para o céu juntas”. Minha filha de 13 anos me pediu perdão por qualquer coisa que tivesse feito de ruim, abraçou o bebê e se encolheu. Era o pior momento, a única saída bloqueada, a lama entrando e inundando tudo, a casa caindo. Eu comecei a gritar “não vou morrer hoje” — contou.

Com a lama na altura da cintura de todos, Monique resolveu tentar tirar os filhos pelo telhado. Para isso, contou com a ajuda de dois vizinhos. Amarrando lençóis, ela tirou os filhos um a um cavando na lama e os passou para cima. No alto, se deparou com dois muros altos e resolveu passar as crianças jogando-as por cima do obstáculo, que tinha cerca de três metros de altura.

— Foi quando comecei a gritar socorro e foi esse momento que viralizou no vídeo da menina — disse.

O vídeo a que Monique se refere foi um dos primeiros a circularem nas redes sociais, ainda no dia 15. A moça que filma mostra a enxurrada na Rua Primeiro de Maio e de repente diz que há uma mulher gritando, quando foca em Monique no momento em que jogava as crianças pelo muro.

Ao tentar atravessar o muro, um acidente. Após saltar, ela caiu em cima de uma árvore tombada e um galho penetrou em um joelho, enquanto outro furou a sola de um pé. De acordo com ela, não houve dor neste momento. Mesmo ferida, ela ainda passou as crianças por mais uma laje e conseguiu escapar, descendo o morro com todos os filhos pelas mãos.

— No momento crítico a gente não sente dor, não sente nada. A gente só sente que tem que fazer alguma coisa. Quando eu gritei socorro, eu achei que alguém poderia ajudar. Eu vi essa menina na janela e eu sabia que ela podia chamar alguém. Mas como eu vi que não vinha ninguém, a gente cria força de onde não tem, é força de quem ama mesmo. Eu tirei força do amor que eu tenho por eles, do quanto eles mudaram a minha vida e do quanto eles me fazem felizes — completou.

Hospedada na casa de parentes, no bairro Mauá, Monique Terra se recupera das feridas profundas nas pernas. A casa e todos os pertences ficaram debaixo de lama no imóvel que era da família, mas o mais importante ela trouxe.

Publicado por: Badiinho Moisés