Câmeras de monitoramento externa de Ipameri, mostra momento em que um dos assaltantes conduz uma pessoa, possivelmente um refém. (Foto: Reprodução). 

 Região vítima de arrombamento de bancos tem menos policiais que a média do Estado

Imagens de câmera de segurança de dentro de uma agência mostra ação dos assaltantes na madrugada (Foto: Reprodução)

Região onde está município que teve bancos e lojas arrombados por explosivos em ação violenta tem proporção de PMs inferior à registrada em Goiás. Secretaria não divulga números.

A cidade de Ipameri, no Sudeste do Estado, viveu momentos de terror na madrugada desta terça-feira (8) ao ser saqueada por 11 homens que utilizaram explosivos para arrombar e roubar três agências bancárias, uma dos Correios e uma joalheria. A região, que inclui os municípios de Campo Alegre e Urutaí, possui um efetivo de 48 policiais militares, um para cada 765 habitantes. A média de Goiás é de 493 pessoas para cada servidor, uma diferença de 272 habitantes a mais para cada policial .

Os dados sobre o efetivo de Ipameri estão em relatório do Ministério Público de novembro do ano passado. O promotor da cidade, Leandro Franck de Oliveira Avila, explica que esse número é flutuante. “Nos últimos anos nós tivemos vários policiais que aposentaram, que foram reformados”, explica.

O titular da Secretaria de Segurança Pública (SSP-GO), Irapuan Costa Júnior, reconhece que os bandidos escolhem as cidades menores para esse tipo de crime por terem um menor efetivo policial. “Eles estão fugindo porque nas cidades maiores a resposta (policial) é muito mais alta. A inteligência do crime também funciona e eles viram que era mais seguro sair de seu Estado, assaltar uma pequena cidade fronteiriça e voltar ao seu Estado”, pontua.

Durante coletiva na manhã de ontem, o chefe do Estado Maior da Polícia Militar de Goiás (PM-GO), coronel André Avelar, não quis responder qual era o efetivo policial em Ipameri atualmente ou quantos agentes estavam presentes no momento do ataque. “Até por uma questão estratégica, não nos convém responder em números. A PM trabalha ostensivamente e mantém policiais em grupos táticos à altura para dar as devidas respostas.”

O coronel também falou sobre o fato de a corporação não ter dado uma resposta imediata ao crime. “Uma troca de tiros entre 11 indivíduos e a PM poderia colocar em risco outras pessoas. A ação lá foi intensa, mas felizmente não tivemos vítimas”, defende.


Efetivo

O coordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) Criminal do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), promotor Luciano Miranda, disse que estão em curso investigações e a preparação de procedimentos para cobrar a falta de policiamento nas cidades menores e mais distantes da capital. “O interior é totalmente desprovido de policiamento, nós temos localidades em que uma só viatura circula durante o plantão”, contou.

Nesses casos, segundo o promotor, a cidade fica totalmente sem policiamento, quando o único carro policial do plantão precisa fazer algum flagrante na delegacia. “Sendo que há localidades que essa delegacia mais próxima fica a cerca de 150 km de distância. A viatura tem que se deslocar e enquanto isso a cidade fica sem nenhum policial naquele período”, exemplifica. A reportagem tentou contato com o delegado titular do Grupo Antirroubo a Banco, Samuel Pereira Moraes, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

A SSP-GO informou que apesar da ação desta madrugada, Ipameri teve queda nos índices criminais no primeiro semestre. Segundo dados do Observatório de Segurança Pública da pasta, as ocorrências de homicídio caíram 23,53%, de tentativa de homicídio 21,4%, de roubo a transeunte 21,43%, de furto em comércio 5,6%, de veículo 21,18%, de transeunte 16,67%, na zona rural 22,97%.


SSP diz que não é novo cangaço

A Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) defende que a ação que aconteceu em Ipameri, no Sudeste do Estado, onde um grupo saqueou bancos e comércios utilizando explosivos na madrugada de ontem, não pode ser chamada de “novo cangaço”. Muito recorrente no ano de 2016, a atividade criminosa aterrorizou municípios com ações espetaculosas, com reféns e tiroteios. 
Durante coletiva na manhã de ontem, a posição da SSP-GO foi que o caso não poderia ser chamado de “novo cangaço” por não ter tido reféns durante a ocorrência. A pasta garante que desde 2016 não há esse tipo de ação criminosa.
 
No entanto, testemunha ouvida pela TV Anhanguera disse ter sido feita refém durante as ações dos bandidos em Ipameri. Já em Silvânia, no dia 6 de janeiro, bandidos chegaram a matar um refém quando tentaram arrombar uma agência bancária da cidade. Três suspeitos também morreram na ação. 
A reportagem voltou a questionar a SSP-GO com essas informações e a pasta defendeu que o “novo cangaço” é um tipo de estratégia específica utilizada pelos criminosos, diferente das que aconteceram ontem e nos últimos meses. Essa estratégia consistiria em bloqueio de ruas, tomadas de reféns com cordão de proteção e emprego de violência com tiros. No caso de Ipameri os bandidos chegaram a queimar uma caminhonete na rodovia durante a fuga. A secretaria diz que não houve registro de refém na ação de ontem.

O arrombamento de agências bancárias vem apresentando queda nos últimos anos. Entre janeiro e 8 de maio de 2016 foram registrados 34 arrombamentos, no mesmo período do ano passado foram 41 e neste ano, até agora, 14. 

Em seu discurso na cerimônia de lançamento do programa Mais Segurança no mês passado, o governador José Eliton (PSDB) citou o fim do “novo cangaço” como uma conquista do Estado e citou os casos. “Eu não me esqueço que em 2016 ocupava, dia sim, dia não, os crimes que ficaram conhecidos no passado como cangaço novo.”

Atualmente, presos indiciados por participarem do novo cangaço então presos em presídios com regime semelhante ao de segurança máxima. 


Mineiros


Horas depois do crime, a SSP-GO anunciou a criação de uma força-tarefa para investigar os ataques em Ipameri. Segundo o secretário Irapuan Costa Junior, grupamentos como Bope, Graer e COD, da Polícia Militar, e o Grupo Antirroubo a Banco (GAB), da Polícia Civil, estão mobilizados no município.

Em coletiva de imprensa, Irapuan afirmou que, com base nas investigações preliminares, já está convencido que os criminosos que atacaram Ipameri são de Minas Gerais. As apurações apontaram que o bando seria originário de Paracatu, no Estado vizinho, cujas forças de segurança também estariam empenhadas na busca pelo bando.

O secretário também diz acreditar que a ação em Ipameri durou muito tempo porque os criminosos não estavam conseguindo uma quantia significativa de dinheiro. “Eles foram a uma agência, foram a outra e outra, depois aos Correios. Como não conseguiram, foram para a joalheria”, relatou. Segundo ele, existe a possibilidade de que os próprios bancos estejam deixando uma quantia reduzida de dinheiro em suas agências. As instituições financeiras não comentam o assunto. 


Moradores relatam terror

(Foto: Corpo de Bombeiros de Goiás)

Os moradores de Ipameri relataram momentos de terror na madrugada de ontem com a ação dos ladrões. Enquanto uma parcela dos criminosos arrombava os estabelecimentos, outro grupo se dividiu em vários pontos efetuando disparos para o alto, provocando pânico na população local. A ação durou cerca de uma hora.

Um morador que pediu para não ser identificado contou que estava dormindo em casa, com a esposa e três filhos, quando acordou com o barulho dos disparos, por volta da 1h30. “Eles estavam atirando para o alto. Não miravam em carros ou pessoas. O armamento era pesado. Após a fuga deles, dava para ver as cápsulas no chão”, contou.

Ele relatou ter visto que os criminosos estavam em uma Toyota Hilux e em um Hyundai i30. O primeiro veículo foi incendiado na GO-330, como forma de impedir a perseguição policial. “Eles ainda jogaram tachinhas e pregos na estrada.”

Além da caminhonete, os criminosos também atearam fogo na entrada da agência do Banco do Brasil, que estava vedada por tapumes após ter sido alvo de outra ação do gênero em 21 de dezembro do ano passado.

O morador ouvido pela reportagem ressaltou que a ação deixou a cidade em pânico. “Dei conta de fechar o olho era por volta de 5 horas. Quando foi 7 horas, levantei para trabalhar”, disse. “Tenho amigos que moram na região dos bancos, eles estavam apavorados com os filhos chorando.”

A recepcionista Luma Raísa Borges Rodrigues afirmou que mora longe dos locais onde foram realizadas as explosões, mas mesmo assim foi acordada pelo barulho. “Foi um tiroteio sem cessar. Parecia que tinha muitas pessoas, porque soltavam as bombas e davam tiros”, contou.

A caixa de supermercado Ivânia José Cândido também estava dormindo quando o tumulto começou. “Eu acordei assustada quando os tiros começaram e abri a janela. Como moro em um local mais alto, vi a fumaça e a poeira subindo”, relatou.

Um comerciante, que preferiu não se identificar por medo, disse que os moradores estavam se sentindo coagidos. “Deram tiros nos quatro cantos. Ficou todo mundo quietinho dentro de casa, como se estivesse na Cisjordânia”, comparou. “Foi uma coisa inédita em uma cidade pacata como a nossa.”

Além do pânico, o presidente da Associação Comercial e Industrial e da Câmara dos Dirigentes Lojista de Ipameri, Bartolomeu Honório do Nascimento, teme que o crime possa acarretar, inclusive, prejuízos aos comerciantes locais. A movimentação nas ruas estava aquém do rotineiro, o comércio ficou vazio durante a manhã de ontem. A interdição dos bancos também causava incômodo, ainda que lá também existam uma agência lotérica e agências dos bancos Sicredi e Bradesco. “Vamos ter que procurar outros municípios para honrar nossos compromissos”, lamentou.

A prefeita Daniela Vaz (PSDB), porém, garantiu que a situação não deve gerar inconveniências para os servidores do município. De acordo com ela, normalmente os funcionários recebem seus salários no último útil dia do mês, pela Caixa Econômica Federal. “Tenho convicção de que até lá a situação já estará resolvida”, pontuou. Procurada pela reportagem, a instituição financeira informou que espera que o atendimento na agência do município já esteja funcionando até a sexta-feira (11).


Comerciante está indignado