26 de outubro de 2014

Jackson Abrão, o Catalano que se tornou o homem da notícia completa neste mês 50 anos de carreira

O Blog do Badiinho orgulhosamente republica uma matéria especial do Jornal O popular, publicada na edição deste domingo (26) a qual homenageia o Catalano Jackson Abrão, pelos seus 50 anos de carreira profissional. Jackson se tornou o homem da notícia, com sua voz marcante e protagonista de grandes reportagens ao longo de sua carreira. Leiam a matéria abaixo.

O homem da notícia

Apresentador e jornalista Jackson Abrão completa 50 anos de carreira em trajetória que se mistura com a história da TV Anhanguera

Escrito por: Jornal O popular

Jackson Abrão
“Jackson Abrão, comentarista da TV Anhanguera : 50 anos dedicados ao jornalismo, comemorados neste mês de outubro”

A voz mais marcante do jornalismo goiano se cala diante do aparelho de TV. Jackson Abrão está na sala que ocupa ao lado da redação da TV Anhanguera. Na tela, novidades sobre a investigação do caso do serial killer de Goiânia. No corredor à frente, produtores, repórteres e editores circulam preparando a nova edição do Jornal Anhanguera 2ª Edição, telejornal que ele conhece bem desde a sua criação nos anos 80. Outra parte da equipe prepara para o dia seguinte o 1ª Ediçãoe o Bom Dia Goiás, matutino do qual Jackson se tornou colunista e comentarista recentemente.

Atento, o jornalista e apresentador não se desliga do que acontece à volta. Ao emudecer o televisor para atender ao POPULAR, não deixa de ficar atento ao que se passa na telinha. As paredes de vidro em frente à mesa também permitem acompanhar a movimentação além dos limites da sala. Sobre a mesa, computador e telefone, uma revista nacional, jornais e o crachá de identificação funcional. Com sua voz e imagem inconfundíveis, sua presença dispensa apresentações pelos corredores do prédio do Grupo Jaime Câmara (GJC).

Até hoje, em qualquer lugar que vai, aliás, Jackson sempre nota olhares convergindo para ele quando pronuncia as primeiras palavras. Olhos alheios buscam identificar pelo espaço algo familiar. O tom grave, que inspira credibilidade, ficou marcado na mente de muitas gerações de goianos a cada “boa-noite”. “Até hoje me surpreendo com o respeito com que me tratam”, diz o jornalista que fora do ar bate papo descontraidamente e sempre aos risos. O que poucos sabem é que a voz – neste mês completando 50 anos de carreira televisiva – nem sempre foi tão grave e solene. “Era fina, irreconhecível”, lembra.

 

RESPONSABILIDADE

A história da voz de rádio, que depois se tornaria também da TV, começou ainda em Catalão, no Sudeste Goiano, onde nasceu em 27 de julho de 1946. Aos 68 anos, Jackson chegou a um dos patamares mais respeitados dentro de uma redação televisiva: o posto de comentarista. Poucos profissionais alcançam a posição, que, para ele, demanda “muita responsabilidade”. “É preciso fazer isso com informação, equilíbrio e seriedade”, ensina ele, que tem a liberdade de escolher temas, geralmente sobre os assuntos mais quentes e densos do noticiário.

A função foi confiada pela direção do GJC a Jackson quando ele deixou a apresentação de telejornais da casa. A confiança é tamanha que raramente precisa colocar o tema dos comentários em discussão e, mesmo assim, quando acontece, é dele a iniciativa. Algo conquistado por quem desde os 17 anos se acostumou a atuar nas fileiras da informação com responsabilidade. Foi com essa idade que o telejornalista deixou a cidade natal, onde já havia adquirido experiência como radialista, para completar os estudos e trabalhar na capital.

Nesta época, no final da adolescência, a voz da credibilidade ainda dividia espaço no mesmo corpo com a voz “fina, irreconhecível”. “Naquele tempo a característica de um noticiarista era voz grave e boa dicção”, lembra Jackson, que espantava todos quando se sentava em frente ao microfone. “Mas esse não é o vozeirão”, disse certa vez um militar que visitava a sala de Jaime Câmara, um dos fundadores do GJC. O jornalista e empresário, que havia chamado Jackson para apresentá-lo à autoridade, riu e confirmou que se tratava sim do vozeirão. “Foi preciso que eu lesse uma notícia para provar”, recorda-se aos risos.

Também rindo, a voz da credibilidade conta hoje como o tom fino se foi para sempre. “A gente paquerava em uma boate no Centro e numa noite conheci uma moça. Dançamos e conversamos, eu com a voz grossa.” Dias depois, Jackson avistou a paquera na rua, que o cumprimentou. Na resposta, porém, emitiu voz fina. “Ela ficou aos risos”, diverte-se. Reflexo do acontecido ou não – não sabe bem – desde então ele nunca mais deixou o tom grave trancado no estúdio. Estava crivada a marca, que certa vez um atendente definiu, entusiasmado ao reconhê-lo, em palavras marcadas para sempre: “Chegou o homem da notícia.”

Trajetória

Jackson Abrão II

ANOS 1960

Um ano após se mudar de Catalão para Goiânia, forma a primeira equipe jornalística da TV Anhanguera em 1964, ao lado de José Divino

Cobre a visita dos atores Glória Menezes, Regina Duarte e Tarcísio Meira, do elenco da novela A Deusa Vencida, fenômeno de audiência

Acompanha o processo de filiação da emissora, já líder de audiência, à Rede Globo, pouco após a criação da emissora carioca (1965)

Participa da transmissão da chegada do homem à Lua (1969)

ANOS 1970

Em meio à situação política delicada durante a ditadura militar no Brasil, realiza entrevistas com nomes fortes do regime como os generais Ernesto Geisel e Golbery Couto e Silva

Produz reportagem histórica que acompanha o fundador de Goiânia, Pedro Ludovico Teixeira, e o primeiro prefeito da cidade, Venerando de Freitas Borges, em passeio pela capital

Participa da criação dos blocos regionais dos telejornais Jornal Hoje e Jornal Nacional

ANOS 1980

Faz coberturas que marcam o declínio da ditadura, como uma entrevista com o futuro presidente eleito, Tancredo Neves; o primeiro debate da TV brasileira entre candidatos a governo, com Índio Artiaga e Iris Rezende (1982), e as Diretas Já (1984)

Participa da criação dos telejornais locais da emissora

Organiza outro debate político, coordenado entre as TVs Anhanguera e Liberal: entre o governador goiano Henrique Santillo e o senador paraense Jarbas Passarinho

Participa da cobertura da tragédia do césio 137 (1987)

ANOS 1990

Como diretor de jornalismo, coordena trabalhos de grandes coberturas como a visita do papa João Paulo II a Goiânia (1991)

Também entra para o currículo a cobertura jornalística de fatos marcantes como a rebelião no antigo Cepaigo (1996)

Outra cobertura que coordenou que marcou época: a morte do sertanejo Leandro (1998)

ANOS 2000

Coordena trabalhos de cobertura marcantes como a enchente na cidade de Goiás (2001) e o desenrolar do sequestro no caso Pedrinho (a partir de 2002)

Atua em iniciativas como o quadro Quero Ver Na TV, resultado do investimento da emissora no jornalismo comunitário

Participa do início do processo de implantação das plataforma digitais para a televisão no Estado

ANOS 2010

Recebe título de cidadão goianiense pela atuação destacada como repórter, redator, editor, locutor e apresentador (2012)

Torna-se comentarista de telejornais da emissora e vira colunista do matutinoBom Dia Goiás

Do som do rádio à imagem da TV

 Jackson Abrão 3

Pouco depois que se mudou para Goiânia para estudar no Lyceu, no final de 1963, Jackson Abrão tratou logo de procurar emprego. Como tinha experiência como locutor de rádio, candidatou-se a duas vagas de noticiarista, uma na Rádio Universitária, emissora da UFG, e outra na Rádio Brasil Central, do sistema público estadual de comunicação. Foi aprovado em ambas. No teste da Brasil Central, que acabou escolhendo, a voz fina de então proporcionou outro episódio que ele relembra aos risos.

Ao chegar ao prédio da emissora e conversar com o guarda, o tom fino chamou a atenção. Do tipo gozador, o vigilante angariou aqui e ali testemunhas para o teste. Ao sentar-se ao microfone e ler as notícias com tom grave e dicção perfeita, Jackson deixou todos boquiabertos. “Eram umas 15 pessoas. Eu era tão inocente, que só depois de muito tempo fui entender tudo.” A atuação, em pouco tempo, chamou a atenção de outro veterano, o jornalista e hoje colunista do POPULAR, Arthur Rezende.

Era julho de 1964, quando Arthur, então na Rádio Anhanguera, sugeriu que Jackson se tornasse locutor da emissora radiofônica do grupo que editava desde 1938 O POPULAR e criara um ano antes a mais nova emissora de TV do Estado. Convite feito e aceito. Satisfeito com o trabalho do locutor, Rebouças Câmara, um dos fundadores do POPULAR, sugeriu a Jaime Câmara que contratasse Jackson também para a TV. “Foi em outubro, por isso conto a carreira a partir desse mês.” A partir de 12 de outubro daquele ano, telespectadores passaram a conhecer o rosto da voz.

Foi na nova função que a informação passou a ser ainda mais importante na trajetória. Na emissora, poucos anos mais tarde filiada à rede nacional da TV Globo, criada em 1965, Jackson tornou-se, além de apresentador, um jornalista comprometido com a apuração de fatos. Praticamente sozinho ao lado de José Divino, que também continua atuando na equipe da Anhanguera, fazia entrevistas, reportagens e compilava informações para ir ao ar na TV e no rádio. “Quando a TV se tornou afiliada da Globo, a Anhanguera já era líder de audiência, porque produzia conteúdo regional e reproduzia os melhores programas de outras emissoras nacionais”, ressalta.

Pelas ruas com Pedro Ludovico

Muito antes de atuar no jornalismo opinativo, no esforço diário para buscar as melhores informações para o telespectador, ao lado de José Divino, Jackson Abrão protagonizou muitos momentos memoráveis. Na ditadura militar, por exemplo, conseguiu feitos como entrevistas exclusivas com nomes poderosos como os generais Golbery Couto e Silva (1911-1987), um dos criadores do Sistema Nacional de Informações, e Ernesto Geisel (1907-1996), que presidiu o Brasil entre 1974 e 1979. “Eram entrevistados difíceis. Falavam pouco e o que queriam”, rememora.

No final nos anos 60, Jackson também participou da transmissão da chegada do homem à Lua. Era 1969 e transmissões via satélite não existiam em Goiânia. Foi preciso um esquema especial de busca das imagens em Brasília, onde era possível captar a transmissão. Dois carros foram destacados. Enquanto um esperava, outro trouxe à cidade a primeira metade do conteúdo, o que fez a TV Anhanguera transmitir as cenas com horas de vantagem à frente da concorrência. “Não havia som e tínhamos que fazer o off (voz que narra a matéria), ao vivo. Sou da época do filme mudo e cheguei à era digital”, brinca.

Uma das grandes reportagens que guarda com carinho, ainda na década de 1970, foi com Pedro Ludovico Teixeira (1891-1979), criador de Goiânia, e Venerando de Freitas Borges (1904-1997), primeiro prefeito. A ideia era registrar um passeio dos pioneiros pela cidade, 40 anos após a fundação. Era um tempo delicado da política e Jackson ficou dois anos em negociação. Quando conseguiu, levou a história a Jaime Câmara, que lhe deu anuência para colocar no ar. Foi um sucesso. “Esta empresa permite mesmo que façamos jornalismo. Não quero fazer média, mas não é assim em todo o lugar. Pra mim isso sempre foi o mais importante”, elogia.