4 de janeiro de 2015

Giro por Goiás: Irmãs siamesas foram separadas no Materno Infantil de Goiânia

Escrito por: Pablo Santos – Jornal O popular

Siamesas
Foto: Reprodução/Jornal O popular

Com uma bíblia na mão, o agricultor Jeiel dos Santos Guedes, de 25 anos, não conseguia segurar o sorriso ao andar por um dos corredores do Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia, com sua mulher, Iara Pereira, de 24, na tarde de ontem. Suas duas filhas siamesas, Anny Beattryz e Anny Gabrielly, de 34 dias, haviam acabado de passar por uma cirurgia de cinco horas que cortou um vaso de grosso calibre que ligava os dois corações e dividiu o fígado que as crianças compartilhavam.

Foi a 12ª cirurgia do tipo realizada pelo HMI. “Foi muito delicada, complicada. Ao abrir o tórax, tivemos que separar a parte cardíaca e depois o abdomen”, relatou o médico-chefe da equipe de 12 profissionais que atuou na cirurgia, Zacarias Calil, ao explicar que não foi possível identificar antes da cirurgia o vaso que ligava os dois corações.

O momento mais tenso da cirurgia foi quando Anny Beattryz, a criança maior, teve uma parada cardíaca e teve que ser reanimada. A reanimação foi realizada com sucesso e as duas estavam, até o fechamento desta edição, em observação, ainda em estado gravíssimo, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do hospital. Anny Beattryz, pesa 2,3 kg e mede 45 cm , peso e tamanho bem maiores que os de Anny Gabrielly, que tem 1,5 kg, mede 36 cm, coração reduzido e apenas um rim. Com condição física mais fraca, ele utilizava a irmã para sobreviver.

Apesar da alegria da família com a operação, Zacarias Calil diz que o momento ainda é de atenção. “Aumentaria um pouco as chances de vida porque desligou a ponte entre o coração das duas, mas existe o risco de infecção, então continua do mesmo jeito. O fígado era único e grosso. As (próximas) 48 horas são terríveis. Temos que aguardar.”

Outro problema ocorrido durante a cirurgia mas também resolvido foi a quantidade de pele. “Não tinha pele suficiente. Tivemos que colocar tela de Marlex (de polipropileno) e pericárdio – uma formação sacular que envolve o coração – bovino. Agora é esperar a cicatrização.”

Família Siameses
“Zacarias Calil (de branco) conversa com parentes de irmãs” Foto: Reprodução/ Jornal O popular

Do lado de fora da sala de cirurgia, pais e tios das meninas comemoraram o resultado da separação das irmãs. “Fiquei sentada em uma cadeira e muito ansiosa durante todo o tempo. A gente sabia que ia dar certo. Confio nas mãos de Deus. Agora, aumenta mais a expectativa”, disse a mãe das crianças. Também agradecendo a Deus, Jeiel ressaltou a importância do momento que passavam. “Alegria imensa, alegria ímpar. Só temos que agradecer a Deus pela vida das minhas filhas.”

12ª CIRURGIA

Esta é a 12ª cirurgia de separação de gêmeos siameses realizada pelo HMI desde 1991, quando o hospital se tornou o primeiro do Centro-Oeste a realizar esse tipo de atendimento. Das 22 crianças separadas, 11 sobreviveram, segundo Zacarias Calil. Outros 16 casos chegaram a ser atendidos, mas não chegaram a passar por procedimento cirúrgico. Na cirurgia de ontem, atuaram cirurgiões pediátricos, médicos intensivistas, anestesistas, cardiologista, nefropediatra e enfermeiros.

Além das duas meninas com menos de um mês de vida, Jeiel e Iara têm ainda Emanoel, de 1,9 ano. O casal viu sua vida mudar ao descobrirem a ligação das filhas ainda na gestação. Eles moravam até dezembro no povoado de Mirorós, um distrito de Ibipeba, município de 18.540 mil habitantes na Chapada Diamantina, na Bahia. A descoberta da ligação dos bebês se deu aos seis meses de gestação . “Fizemos o pré-natal e o acompanhamento lá, mas como nossa cidade tem poucos recursos, decidimos vir para Goiânia”, disse Iara à reporter do POPULAR, Malu Longo, antes da operação. Com oito meses de gestação, a mulher e o marido chegaram a Goiânia para o parto e a separação dos bebês ocorrida ontem e não voltaram mais à cidade baiana.