9 de abril de 2018

Facebook notifica usuários que tiveram dados vazados e 443 mil são no Brasil; Investidores pedem saída de Mark Zuckerberg do comando

Mark Zuckerberg, é o fundador do Facebook. (Foto: Reprodução/TechCrunch)

A situação envolvendo o Facebook e a empresa de consultoria digital Cambridge Analytica respingou em Mark Zuckerberg. Um grupo de investidores decidiu iniciar uma campanha para tirar o fundador da empresa do poder, alegando que que ele não tem a compreensão de como uma grande companhia de capital aberto e alcance global deve ser gerida.

Michael Connor, CEO da Open MIC, afirma que o Zuckerberg não tem mais condições de ocupar as duas posições que ele tem hoje na empresa. “Ele atualmente tem dois cargos no Facebook: CEO e presidente do conselho. É hora de ele deixar pelo menos um dos cargos, se não ambos”. Connor defende que Zuckerberg apresenta sua própria renúncia ou seja demitido de uma das posições.

É importante notar que qualquer revolta contra Zuckerberg tende a ser infrutífera por causa da composição acionária da empresa. Isso porque, apesar de o fundador ter apenas 16% das ações do Facebook, ele ainda tem 60% dos direitos de voto na companhia, o que significa que ele está protegido contra qualquer insurgência por parte dos acionistas ou do conselho. Ele só deixará algum dos cargos se ele quiser, portanto.

Também é importante notar que por mais que a Open MIC seja influente, a empresa não tem nenhuma participação no Facebook. O que o grupo faz é coordenar os investidores da empresa em prol de algum objetivo específico, como solicitar conferências para discutir temas como as suspeitas de interferência russa na campanha presidencial americana de 2016 por meio de anúncios patrocinados com dinheiro vindo do exterior.

A Open MIC não é a única a pedir a renúncia de Zuckerberg. Scott Stringer, diretor da controladoria de Nova York, defende uma reorganização na estrutura do conselho do Facebook em nome de um fundo de pensão municipal da cidade, que tem boa parte das ações da empresa. Ele acredita que é necessário haver um presidente independente do conselho, capaz de supervisionar as ações de Zuckerberg.

Mark Zuckerberg, além de ter o poder de voto para impedir que qualquer mudança seja feita contra sua vontade, simplesmente não quer deixar o poder na empresa que fundou em 2004. Diante da crise, ele apenas afirma estar confiante de que a empresa será capaz de superar os problemas, sem dar qualquer indício de que pretenda deixar algum de seus cargos.

Facebook notifica usuários que tiveram dados vazados; 443 mil são no Brasil 

Quase meio milhão de usuários do Facebook no Brasil tiveram seus dados coletados e repassados irregularmente à empresa de consultoria e marketing digital Cambridge Analytica, com base no Reino Unido. A plataforma anunciou que enviaria hoje (9) mensagem aos internautas envolvidos no vazamento com informações sobre o ocorrido.

Segundo a assessoria de Facebook no Brasil, as pessoas cujos dados foram vazados receberão uma mensagem na linha do tempo (newsfeed) contendo um link no qual poderão saber quais informações foram coletadas e de que maneira estas foram utilizadas.


Vazamento

Os dados foram vazados para a empresa Cambridge Analytica por um desenvolvedor que usou um aplicativo de teste de personalidade para acessar os dados. Essas informações teriam sido usadas pela consultoria britânica para influenciar eleições em diversos países.

Reportagens publicadas nos jornais New York Times (EUA), The Guardian (Reino Unido) e no canal de TV britânico Channel 4 (Reino Unido) divulgadas em março trouxeram a denúncia de um ex-funcionário relatando como os dados foram trabalhados pela firma para influenciar eleições, em especial o pleito dos Estados Unidos de 2016.

Na matéria da emissora de TV, dirigentes da empresa relatam que começariam a atuar no Brasil. A companhia firmou parceria com a Agência Ponte. Contudo, em março, a Ponte informou que não renovou o contrato com a consultoria.


Vítimas no mundo

No último dia 4 de abril, o diretor de tecnologia do Facebook, Mike Schroepfer, publicou mensagem no site da plataforma na qual afirmou que o número de pessoas atingidas chegaria a 87 milhões, bem maior do que os 50 milhões informados pelas reportagens detonadoras do escândalo.

A maioria (70,6 milhões) é formada por cidadãos dos EUA, mas o vazamento também incluiu 1,1 milhão de pessoas das Filipinas, 1 milhão da Indonésia, 1 milhão do Reino Unido, 789 mil do México, 622 mil do Canadá, 562 mil da Índia e 443 mil do Brasil.

A assessoria de imprensa do Facebook afirmou que a resposta da empresa abrange a notificação dos usuários envolvidos no vazamento e medidas para reduzir riscos e aumentar o controle das pessoas sobre as informações usadas por aplicativos.


Medidas

Hoje (9), o Facebook anunciou a inclusão da exigência de identificação e localização de quem desejar pagar por anúncios políticos. Essa verificação deverá ocorrer também no caso de “grandes páginas”, embora a companhia não tenha detalhado o critério para enquadrar a categoria. Outra nova funcionalidade criada será a possibilidade de os usuários verem os anúncios presentes e passados de uma página.

No dia 6 de abril, o vice-presidente de anúncios do Facebook, Rob Goldman, publicou no site da empresa outras medidas para os anúncios. Uma delas é a implantação de uma identificação da mensagem como “anúncio político” e o registro do quem pagou pelo por ele.

Esses mecanismos estão sendo testados nos Estados Unidos e no Canadá inicialmente. Segundo o presidente da empresa, Mark Zuckerberg, a verificação de páginas será expandida para o restante do mundo “nos próximos meses”. De acordo com a assessoria da empresa no Brasil, ainda não há garantia de que essas e outras medidas, parte das chamadas “diretrizes de anúncios”, serão implementadas no Brasil antes das eleições.

A empresa já havia anunciado, dias atrás, recursos para facilitar a percepção dos usuários sobre quais as configurações de segurança e aplicativos autorizados por estes a coletar dados e que usos estes programas fazem destas informações. Uma nova funcionalidade facilitou para usuários a maneira de baixar os registros que a plataforma possui deles.

O diretor de tecnologia da companhia, em sua publicação no dia 4 de abril, disse também que o acesso destes aplicativos ao que é feito na plataforma foi dificultado no caso de eventos, grupos e páginas. Ele acrescentou que o acesso a ligações e mensagens (uma opção dos aplicativos baixados no celular) também será restringido.


Investigação

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) abriu um procedimento de apuração para avaliar o caso e os impactos a usuários brasileiros. A decisão havia sido tomada antes da confirmação de que o vazamento incluiu informações de 443 mil brasileiros. No documento de instauração do inquérito, o MPDFT aponta o episódio como um “tratamento ilegal de dados”.

Investigações foram abertas também nos Estados Unidos. Amanhã (10), o presidente da empresa vai depor em audiências no Congresso dos Estados Unidos. Ele também foi convocado pelo Parlamento Britânico.


Ausência de proteção

Para a advogada Flávia Lefévre, especialista em direito digital e integrante do Comitê Gestor da Internet no Brasil, o vazamento dos dados de brasileiros foi ilegal, contrariando o Marco Civil da Internet (Lei 12.965, de 2014) e o Decreto 8.771, de 2016, que restringem provedores de aplicativos de repassar dados dos usuários a terceiros.

De acordo com a especialista, a investigação em curso pelo Ministério Público é importante para verificar os danos aos usuários envolvidos. A depender do que pode ser constatado, o Facebook pode ser multado pela violação da legislação da área e também com base no Código de Defesa do Consumidor.

Contudo, a advogada diz que o episódio evidencia a falta de proteção dos internautas brasileiros pela inexistência de uma legislação para a área de privacidade. “Estamos muito vulneráveis pelo fato de não termos uma lei de proteção de dados pessoais e de não termos uma entidade com competência para fiscalizar a atividade de coleta, tratamento e transferência de dados pessoais”, alerta. Projetos de lei sobre o tema tramitam no Congresso, mas sem perspectiva de aprovação.

Escrito por: Redação/Fonte: Olhar Digital e Agência Brasil 

Fotos: Reprodução