22 de março de 2016

“Esgotamos todas as possibilidades”, diz médico que conduziu cirurgia de captação de órgãos

Escrito por: Cristina Mesquita

Fotos: Reprodução

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“Dr. Petteson Idelmino França”

Expectativa durante todo o dia do último sábado, 19, em Catalão. Acontecia no Hospital Nasr Faiad mais uma cirurgia de captação de órgãos. A quarta realizada na unidade.

Depois de 17 dias internada, a enfermeira Izabel Cristina estava apta para doar todos os órgãos, incluindo coração e pulmão. Porém, seu tipo de sangue (B+), impossibilitou a doação de vários deles. “Como o tipo de sangue é mais difícil de se encontrar, é também mais difícil de encontrar receptor, porque a compatibilidade está entre os primeiros itens verificados pela Central de Doações”, disse o coordenador da Comissão Intrahospitalar para doação de Órgãos para Transplantes e Tecidos (CIHDOTT), Dr. Petteson Idelmino França.

O médico explicou ainda que o protocolo que diagnosticou a morte cerebral da enfermeira foi encerrado às 20h30 do dia anterior. O procedimento, o primeiro no processo para doação,  é feito por três médicos diferentes e a cada seis horas de intervalo. “Com morte encefálica confirmada, a família é entrevistada com o objetivo de saber se há interesse da doação. No caso de Izabel houve a intensão, respeitando uma vontade da própria Izabel em vida”, informou ele.

As informações são repassadas à Central de Transplantes para contemplar os primeiros das filas para doação. Enquanto as informações são repassadas para as centrais regionais ( ligadas em rede), a equipe do Banco de Olhos realizou a retirada de suas córneas. Os órgãos são dos mais simples para a doação, não exigindo a mesmo tipo de sangue do doador e receptor. A cirurgia é considerada rápida e são encaminhadas ao Banco localizado em Goiânia.

No caso de Izabel, foram doadas as córneas, não encontrando receptor para os demais órgãos. “Esgotamos todas as possibilidades”, disse Petterson, por volta das 20h, explicando que primeiramente, eles são disponibilizados para todo o país, via Central em Goiás. No meio da tarde, ele recebeu um telefonema: eram as equipes de Brasília, que possivelmente teriam receptor para os pulmões. Porém, o tipo de sangue impossibilitou a doação, assim como o processo de doação para os rins, que inicialmente para Goiânia.  A incompatibilidade também impossibilitou a doação. A logística em Catalão para o pouso e decolagem de um helicóptero chegou a ser concluída.

“A família, atendendo um pedido expresso dela, em vida que sempre se manifestou em efetivar a doação de órgãos e manter a postura dela em vida, de ser sempre proativa às questões de ajudar os outros. Nós estamos nesse momento esperando a retirada e endereçamento desses órgãos aos propensos receptores” disse Geordano Paraguassu, amigo da família ainda no meio da tarde.

O Hospital Nasr Faiad é o único do interior de Goiás a realizar esse tipo de procedimento. As equipes já tiveram à frente de sete procedimentos como esse. Quatro foram concluídos. Quer dizer, tiveram seus órgãos destinados a receptores. Todo o processo, segundo o médico é conduzido pela Central de Transplante regional (em Goiás). “Existe um protocolo de abordagem, depois que se encerra o protocolo de morte cerebral, de morte encefálica para que a família seja entrevistada, digamos assim, para que haja a negativa ou afirmativa para doação. Esse é um protocolo que a gente faz aqui no hospital com as famílias de potenciais doadores”, explicou.

“A família é o principal mediador e o principal dominador também, porque se a família não autoriza, não tem o processo, não tem o procedimento. Não adianta só a vontade do doador. A família tem que autorizar. E no caso da Izabel, a família atendeu prontamente, de maneira ímpar nos atendeu porque também era vontade da paciente”, revelou o médico.

Izabel Cristina foi diagnosticada com uma embolia pulmonar, quando internada no Hospital Nasr Faiad. Em 17 dias na UTI, ela sofreu duas paradas cardíacas e um AVC (Acidente Vascular Cerebral).