21 de setembro de 2015

ENTREVISTA: João Enéas

Escrito por: Pidim José Pedro Júnior – Jornal O Catalão 

Fotos: Pidim

João Enéas

Joao Enéas Bretas Netto, foi um dos entrevistados do programa Máquina do Tempo, Nery Mesquita, Canal 17. Ex-seminarista, fundador do PT em Catalão, cartorário, homem muito religioso. De família de políticos (Netto e Campos) sempre teve atividades ligadas à política, desde jovem (movimentos estudantis, etc). Criticado pelos oposicionistas políticos às suas ideologias, por ser sincero e objetivo nas análises/posições, mas jamais quanto à sua integridade, moral, honestidade. Veja algumas frases dessa entrevista.

Família

Família (Jão Enéas)

* Comecei a trabalhar aos 12 anos com o Wisner Tartucci e nunca mais parei. Trabalho até hoje (71 anos). Fui o primeiro entregador de gás em domicílio. Já tenho 50 anos que trabalho no cartório (1965).

* Não fui bom aluno. Não gostava muito de estudar. Só parei de tomar bomba (repetir o ano escolar) quando comecei a namorar a Carolina já que éramos da mesma sala. Aí comecei então a tomar mais atitude como homem.

* A Carolina fez de sua doença um meio para ajudar os outros (Fundadora e primeira presidente da Associação dos Diabéticos). Ela ficou diabética na primeira gravidez. Com a diabete ele passou a ter problema renal… Depois ela fundou a Associação dos renais crônicos.

* Além disso, ela fundou na LBA curso preparatório para gestantes e participou de diversas atividades da Igreja, como Pastoral da criança e adolescente, TLC e outros.

* Quando ela faleceu o Marconi veio para o seu velório. O poder Público de Catalão não prestou a ela uma homenagem sequer. Não tem um órgão, uma rua em Catalão que leva o nome de Maria Carolina de Mesquita. 

Futebol – CRAC

Crac (João Enéas)

* O Leovil Evangelista da Fonseca em 1967 era o prefeito, o Ênio Paschoal, presidente do CRAC era vereador e o Silvio Paschoal era o médico do clube. Fui chamado pelo Silvio para ser o tesoureiro do CRAC com apenas 23 anos. Eu era do MDB ligado ao João Netto, adversário politico deles, mas o CRAC estava acima disso tudo.

*Eu era do Catalão FC. Naquela época CRAC e o Catalão não se misturavam. Era igual Flamengo e Vasco, era igual dois políticos aqui. Do Catalão FC, fomos para o CRAC,  eu, o Pedro Goulart, Dr. Jamil, Liquim, Heber Campos, Toim Sebba. Queríamos o bem do futebol na cidade.

* Quando o Claudinho machucou o joelho ele ficou hospedado na casa do Sr. Totonho Rodovalho e Dona Sâmia, tratado como filho. Assim era o CRAC.

*Compramos o Toninho do Ituiutaba por R$ 5 milhões, sem ter o dinheiro. Naquela época jogador do CRAC ganhava R$ 120. Pegamos o dinheiro através de depósitos de cheques em compensação, que sempre eram trocados por novos cheques (demorava-se alguns dias para compensar). Para pagar esse empréstimo demorou muito tempo com recursos do baralho (existia jogo de cartas no porão da sede social do CRAC) e das rendas é que pagamos o passe do Toninho.

* O domingo na panificadora dos irmãos Nicoletti o assunto era só CRAC.

* Somente comecei a acreditar que poderíamos ser campeões mais no final do torneio.

* Na bilheteria do CRAC ficava eu, o Esoly e o Fued Pedro.

* Em 1969 o campeão no campo foi o CRAC. Perdemos o título porque o técnico Iracy aos 46 minutos fez uma substituição a mais do que era permitido. Assim o empate final contra o Vila daria o título ao CRAC, mas com a substituição errada o empate passou a favorecer o Vila Nova. Falha do técnico, da Federação e nossa.

* O Pedro Goulart (diretor de futebol em 1967) foi o grande cara do CRAC.

* O Gol mais rápido do mundo foi do Claudão no jogo contra o Atlético Goianiense, em 1968, aqui em Catalão. Foram apenas dois toques na bola. Como não havia cronômetro definiram como 6 segundos.

Política

nery, agnaldo,joao eneas, maurinho e mauro
Aguinaldo Mesquita, João Enéas, Maurinho e Mauro

* Não vai ter outro político igual ao João Netto de Campos. Ele conseguiu em 1962 a Aerovias Brasil, Transporte Aéreo, para Catalão com a amizade que ele tinha com o Ademar de Barros, governador de São Paulo. A rota era Goiânia, Catalão, São Paulo. O prestígio do João Netto era grande. Trouxe o governador de São Paulo e de Goiás aqui em Catalão na inauguração.

* Meu pai, Cyro Netto, era proprietário da Crevrolet (venda de carros), era dono da Vila Chaud inteira, Avenida Dr.Lamartine dos dois lados até a UFG. a Quando terminou seu mandato, quebrado, foi ser dono de um pequeno bar em Goiânia e somente voltou para Catalão depois com mais de 70 anos.

Fui eleito vereador e tive uma grande frustação. Eu tinha certeza que seu eu fosse o presidente da Câmara, as Câmaras de vereadores do Brasil seriam outra, porque eu iria fazer uma campanha a nível nacional para que vereador fosse só vereador e não tivesse essa coisa de assessores e outras coisas mais. (Haley Margon perdeu a eleição mas elegeu a grande maioria dos vereadores que optaram por um nome governista à presidência). Gasta-se hoje mais de um milhão de reais por mês. Isso não tem lógica. Pode devolver 500, 600, 800 que para mim tá devolvendo pouco.

* Quando assumimos, a Câmara anterior onde cada vereador ganhava mais de R$ 2 mil, definiu o salário do próximo mandato para R$ 420, R$ 480. Assumimos sabendo dessa decisão, mas com segurança que houve má fé da Câmara anterior. Com informação do jurídico os vereadores retornaram o antigo salário, só que eu não considerava isso correto. Tentei depositar em juízo, mas o promotor me disse que não poderia fazê-lo. Então o MP entrou com uma ação contra os vereadores. Como o salário era depositado em conta, criei uma outra conta em conjunto com o MP e comecei a depositar o dinheiro. Não era só o excesso, depositava todo salário. Todos tiveram que devolver o dinheiro, inclusive eu. Todos foram multados, menos eu.

* Quando candidatei a prefeito não falei daquilo que poderia fazer. Pedia para as pessoas analisassem minha vida no cartório, na minha família, no CRAC (foi tesoureiro em 1967), nos clubes sociais, na Igreja. Se eles achassem que eu merecia um voto de confiança, tudo bem.

* Em 1982 foi a primeira eleição após termos fundado o PT. O Haley teve 9 mil votos e nós 180. Estava lançada a semente. O Lula esteve presente aqui em um comício e fomos depois levá-lo no dia seguinte a Uberlândia. Ninguém o conhecia.

* Na campanha de 2000 quase fui eleito prefeito. Não tinha dinheiro. Gastei R$ 160 mil. Quando terminou vendi aparelho de som, camionete, peguei dinheiro emprestado como agiota, com outras pessoas. Demorei dois anos para pagar minhas contas da campanha. Na campanha inteira gastei R$ 2.300 reais de gasolina. Não tinha dinheiro para nada. Os vereadores ganharam apenas os santinhos.

 Um amigo, Joãozinho Moreira, sempre me dizia: João Enéas antes de ter o PT você já era PT. E eu falo agora, eu saí do PT e o PT não saiu de dentro de mim. Saí do PT por questão de coerência. Na segunda eleição do Lula eu queria votar no Marconi para senador. Como que um ex-presidente do PT iria votar numa pessoa do PSDB? Votei no Lula e no Marconi. Até aí não tinha acontecido nada, depois do segundo mandato do Lula é que vieram essas coisas, que veio o caso do Mensalão.

* As pessoas me procuram e falam que eu poderia ser a terceira via. Pela idade que eu tenho, pela vida que eu tenho, eu achei que é hora de cruzar os braços. Não vou mexer mais com política, essa é a minha intenção. Mas você nunca deve dizer que dessa água eu não bebo.

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“Construção da ponte São Marcos”

* Quando meu pai era prefeito de Catalão (1953) ele construiu a ponte sobre o Rio São Marcos com uma verba federal e ajuda dos fazendeiros da região. Essa ponte nunca foi retocada. Hoje passa caminhão bitrem nessa ponte e ela não tem um trincado  (61 anos). Não tinha empreiteira para construir e o José Marcelino da Silva foi  o construtor, ajudado pelo Joaquim e os trabalhadores de Catalão. 

* Na administração do meu pai Cyro Netto Catalão teve iluminação pela primeira vez, que começou com o calçamento de paralepípedos, construção do aeroporto. 

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“Construção da ponte São Marcos”