12 de julho de 2017

ENTREVISTA: Dr. Aguinaldo Mesquita, novo Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Catalão

Aguinaldo Gonçalves Mesquita, 68 anos, é médico ginecologista obstetra e formou-se em 1975 pela Escola de Medicina do Rio de Janeiro. Atendeu pela primeira vez na Santa Casa de Misericórdia de Catalão no dia 19 de novembro de 1976, onde realizou quase 12.000 partos. O médico também fez parte da direção clínica da entidade nas gestões de Dr. César Ferreira, Adailson Paiva e do Professor João Martins. Na vida pública, Dr. Aguinaldo Mesquita foi prefeito de Catalão de 1989 a 1992, “primeiro-damo” de 1998 a 2000, assessor especial do governador Marconi Perillo durante o primeiro mandato, gerente da Macro Regional de Saúde no governo Alcides Rodrigues, candidato a deputado federal em 2006, a vice-prefeito em 2008 e encerrou a carreira política no ano de 2010, como candidato a deputado estadual. Casado com a ex-prefeita Maria Ângela Mesquita, é pai de três filhos (Hugo, Isadora e Gustavo) e avô de três netas à espera da terceira. Dr. Aguinaldo assumiu há uma semana a provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Catalão. Realizamos uma longa e esclarecedora entrevista, e vale a pena você lê-la até o final.

“Dr. Aguinaldo Gonçalves Mesquita, novo provedor da Santa Casa de Misericórdia de Catalão”

Blog do Badiinho: Aos 68 anos, com várias realizações na medicina e na vida pública, por que assumir essa grande responsabilidade?

Dr. Aguinaldo: Três motivos, Badiinho. O primeiro deles é que sou uma pessoa de muita fé, e a Santa Casa estava passando por momentos difíceis devido à doença da filha da Dra. Elaine. Ela teve que se afastar, e com o afastamento dela as coisas foram se complicando. Era preciso alguém que a substituísse com competência, ela deu sua contribuição por 12 anos com muita competência, mas não podíamos exigir mais dela. Foi feita uma eleição e ficamos frustrados, porque as pessoas não se habilitaram ao cargo. Assumi como uma missão. Sou membro de um terço dos homens, fui ao terço e pedi que Deus iluminasse meu caminho. Entrei na sala para dizer não; no fim, falei sim, e entendo que estou cumprindo com uma missão minha aqui na Terra. Por toda a minha história profissional, toda na Santa Casa, tenho uma missão. A entidade me fez prefeito, me fez homem público; agora, vou retribuir ainda mais.

Blog do Badiinho: Notamos o carinho que as pessoas têm pelo senhor, em especial as suas pacientes, mas Catalão é uma cidade politizada e tudo vira polêmica. Como o Sr. tem tratado o relacionamento com o poder público, principalmente depois das críticas e manifestação de descontentamento feitas pelo prefeito Adib Elias?

Dr. Aguinaldo: A gente tem realizado diálogos. Eu disse para o Dr. Fernando (secretário de Saúde), e na sexta-feira (14/07) vou estar com o prefeito, momento em que eu vou me apresentar como provedor a ele pela primeira vez. Nós apoiamos a eleição dele, apesar de não ter participado da campanha, já que prometi à minha família que não subiria mais em palanque. Na ocasião, quando o Adib me convidou a participar, falei que o apoiava, porque ele tinha junto um amigo de Santa Casa. O apoio que fiz a ele foi principalmente em razão da Santa Casa e ao Dr. João Sebba (vice-prefeito e ex-secretário de saúde), e isso fez com que, eu ficando fora do processo político, fiquei em uma situação privilegiada; melhor dizendo, eu não tenho barreiras, e a Santa Casa não pode ter barreiras também. Temos que tratá-la como uma entidade pública de Catalão, que presta bem uma assistência principalmente para a comunidade mais pobre, atendendo também os mais favorecidos, que são as pessoas portadoras de convênio. A grande finalidade da Santa Casa, quando o Sr. João Netto de Campos a fundou em 1949, foi criar um hospital que pudesse atender a pobreza de Catalão, e isso aconteceu. Os inimigos que tenho não fui eu que fiz, pois foram eles que se julgaram inimigos meus, então eu não tenho inimigos declarados.

Blog do Badiinho: Além da cidade de Catalão, que já é uma grande demanda, a Santa Casa atende também cidades de toda a região. O convênio entre Município e entidade Santa Casa foi reativado em fevereiro deste ano. Qual é o valor repassado, emendando, esse dinheiro é suficiente para garantir um bom atendimento?

Dr. Aguinaldo: A gente tem que colocar as coisas bem certas para que a população possa entender. Eu fui gerente da Macro Regional de Saúde, então, nós temos 18 cidades que fazem parte dessa região, inclusive tive uma felicidade de ser o organizador dessa Macro Regional. A Santa Casa tem um convênio com a Prefeitura para a manutenção da emergência básica, porque é de responsabilidade do Município. Então, como ela já tem um Pronto Socorro, é feito o convênio. Eu nem me lembrava disso mais; esse convênio do Pronto Socorro foi feito na minha administração como prefeito. Aliás, naquela época, foi uma das poucas causas que a Santa Casa me pediu, porque a Santa Casa tinha uma vida equilibrada, então nós fizemos esse convênio apenas para ajustar a situação dos médicos plantonistas, que viviam daquela carteirinha amarela. Agora, a Prefeitura repassa algo em torno de R$ 600 mil reais mensais para a manutenção do Pronto Socorro, e a manutenção do Pronto Socorro significa atenção à emergência básica do Município. É uma responsabilidade qual se fosse se a Prefeitura tivesse um hospital próprio e estivesse mantendo. Então, é praticamente uma obrigação do gestor público. Não posso te dizer que o dinheiro é suficiente, porque nós estamos passando por uma fase de reestruturação. Já me reuni nesses dez dias mais de cinco vezes com o Dr. Fernando Netto. Na excelente relação que temos, estamos estudando uma forma de aplicar aquilo que eu estou pensando, porque o Pronto Socorro não é apenas o Pronto Socorro, é um complexo emergencial, ele envolve não somente o primeiro atendimento; envolve a seqüência do atendimento. Não posso hoje te afirmar que só existe o Pronto Socorro da Santa Casa; existe um complexo emergencial, e essa é uma meta que nós temos. Assim como não é só o Município de Catalão que tem que manter o Pronto Socorro, por isso é um complexo. O que vou falar com o prefeito? Nós vamos reestruturar, peço 30 dias de prazo, como todo mundo pede em administração, que eu quero reestruturar, requalificar as pessoas que estão no Pronto Socorro, humanizar o atendimento e principalmente a qualidade do atendimento das pessoas. Qualificar os médicos com cursos e treinamentos. Temos que pensar grande, é o momento para se pensar grande, refletir com honestidade, com sinceridade; não botar máscara, tirar a politicagem e fazer. A política da saúde não é partidária. Se a pessoa fica vermelha, está passando mal; se fica amarela, passou mal. Se fica preta é porque morreu, por isso não pode ter cor partidária. Ontem (terça-feira, 11/07), eu conversei com o prefeito de Nova Aurora, Vilmar Carneiro, ele grato pelo o que a Santa Casa faz por ele, mas ele tem que participar mais dentro desse trabalho. Tem que se comprometer mais, essa falta de compromisso é o que está ruim nos políticos e na comunidade.

Blog do Badiinho: Já recebe opiniões dos cidadãos?

Dr. Aguinaldo: Eu caminho todos os dias na Represa do Clube do Povo às 6h. O rapaz que limpa a orla virou para mim e disse: “Ontem o Sr. me emocionou. Falou na rádio o que o povo quer ouvir”. Então, uma pessoa que é faxineiro, que está lá, um cidadão que os olhos de muitos pode não ter condição de opinar, ele deu um pronunciamento que valoriza o que a gente está fazendo. A gente tem que valorizar o mais humilde para chegar à grande obra, então essa é a minha meta.

Blog do Badiinho: Houve um fato antes do Sr. assumir, com muito destaque, com relação à intervenção do Ministério Público para a realização das cirurgias eletivas. O que aconteceu?

Dr. Aguinaldo: Falta de diálogo, falta de compreensão também. Se você fez faculdade, você tem que tem um relacionamento, sabe que as coisas não devem apenas ir para o papel, tomando-se atitudes por informações. Se você tem uma cirurgia eletiva para fazer, uma hérnia, por exemplo, não é urgência pelos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS)… Após autorização, ter feito a consulta e o médico ter diagnosticado que você tem que fazer a cirurgia, você tem que passar por um processo de autorização. O dia que essa cirurgia é autorizada, você volta ao seu médico e ele tem 30 dias para marcar essa cirurgia, se ela não é urgência, é eletiva. Dentro desses 30 dias o médico pode marcar. Agora, o hospital recebe do médico, não é o hospital que é responsável pela cirurgia, quem é o cirurgião então tem que ter um entendimento também entre as partes. A eleição foi no dia 29 de junho e no dia 30 fomos tomados de surpresa com esse processo da Promotoria. Já estamos tomando providências. Existe uma Lei Federal, uma portaria Federal que autoriza cirurgias eletivas da forma como expliquei. Você já pensou, se na Santa Casa nós temos a grosso modo 18 pessoas que fazem cirurgias eletivas, não é somente o cirurgião geral envolvido… Tem os ginecológicos, os ortopédicos, tem muita gente que faz. Você já pensou se todo mundo decidir marcar para o mesmo dia? Nós temos cinco salas de cirurgia, não cabe todo mundo no hospital, por isso são eletivas, programadas. Alguém me perguntou, “e se eu passar mal”? Entra, então, minha ideia do complexo emergencial, que é o Pronto Socorro da Santa Casa de Catalão.

Blog do Badiinho: Como está o funcionamento da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa?

Dr. Aguinaldo: Fizemos uma inauguração recente, ela está em fase de estruturação. Nós não conseguimos ainda o credenciamento total para a região, apenas inclui cinco leitos de SUS para Catalão. Ela está por enquanto ociosa, porque cinco leitos de SUS para Catalão é muito pouco perto da capacidade de dez leitos que ela tem. A iniciativa que estamos tomando é justamente para definirmos como fazer para aumentar a quantidade de leitos. Qual será a primeira medida? Terça-feira próxima, 25 de julho, está agendado com o secretário de Estado da Saúde, em Goiânia, para que nós possamos discutir o aumento do número de leitos. Já solicitamos à Câmara Municipal, por meio de um pedido de criação de Projeto de Lei – e já tive a felicidade de receber seis vereadores e ligações de outros oito –, para bancarem mais três leitos para o Município de Catalão, o que significaria R$ 90 mil. Já estamos com a maioria na Câmara, só se o prefeito vetar o projeto, até porque vereador não pode legislar sob matéria financeira, mas pode apoiar o projeto.

Blog do Badiinho: O senhor é conhecido por ter criado um slogan, durante uma de suas campanhas, dizendo “balança, coração”. Isso é memorizado até hoje por quem acompanha a vida do médico Aguinaldo Mesquita. Agora, assume com o lema “Santa Casa por uma Santa Causa”. Por que essa frase?

Dr. Aguinaldo: É opção humana. É você transformar a humanidade, ser mais sincero, ser mais honesto; é transformar como eu fiz da Prefeitura a opção humana. Era a força da vitória. Se procurar em grandes obras minhas em Catalão, dificilmente você vai encontrar um Fórum, alguma coisa assim, como uma construção grande, obras físicas. Mas você se encontra com todo funcionário e eles falam para todo mundo: sapato que eu ganho, plano de saúde, foi conquista do mandato do Dr. Aguinaldo. Ontem (terça-feira) mesmo o ex-prefeito Velomar Rios me ligou, me cumprimentando por eu assumir a Santa Casa e chamando para conversar sobre parceria entre o IPASC e a Santa Casa. À época, o próprio Dr. Fernando, hoje secretário de Saúde, contestou meu slogan dizendo que coração não balança, mas pulsa. Só que o balançar do coração é uma forma de se expressar, um sentimento de alegria para o povo. A “Santa Casa por uma Santa Causa” é a forma de trazer para o povo novamente uma entidade com o melhor da saúde. Se eu der o melhor da saúde, eu estou cumprindo aquilo que é a nossa missão aqui na Terra, que é amar o próximo como a nós mesmos

Blog do Badiinho: Obrigado pela oportunidade, Dr. Aguinaldo.

Dr. Aguinaldo: Quero te agradecer muito. Te vi muito menino, hoje grande e fazendo coisas grandes também. Quero te parabenizar, eu quase não acompanhava, aliás, agora que vou ter que acompanhar mais, porque hoje a gente tem uma responsabilidade maior. Eu estava até desligando meu celular para me desligar da profissão quando eu assumi este cargo. Estava querendo, com 42 anos de profissão, ter minha missão com a saúde completa. Mas a Santa Casa me chamou novamente e eu não podia negar quem me ajudou. À entidade, aos funcionários, tudo aquilo que eu fiz, e eu me disponho a assumir um compromisso: podemos nos sentar todo mês para fazermos um balanço, para que a população e seus colegas internautas acompanhem. Quando muitas vezes vocês viram as pessoas questionando o emprego do dinheiro na Santa Casa, agora quero ver as pessoas informadas. Pagou-se médicos, fez-se coisas aqui dentro, mas agora eu quero mostrar direitinho.

 

Escrito por: Badiinho Filho 

Foto: Badiinho