15 de setembro de 2017

Cliente de esteticista acusada por morte de mulher diz que teve problema em aplicação para aumentar bumbum

“Processo apura morte de Maria José Brandão após aplicação para aumentar o bumbum” (Foto: Aracylleny Santos/ Arquivo Pessoal)

Uma das clientes de Raquel Policena, que responde pela morte da ajudante de leilão Maria José Brandão, disse durante audiência nesta quinta-feira (14) que também teve problemas na aplicação de produtos pra aumentar o bumbum. Sem querer se identificar, ela informou que fez uma das sessões no mesmo dia em que a vítima, em Goiânia.

“Fiz o procedimento três vezes, algumas vezes para dar retoque porque às vezes um lado ficava maior que outro. E eu tive um problema, o produto desceu pela minha perna e parou no meu pé, ficou inchado”, disse durante a audiência.

Segundo a cliente, outras mulheres também relataram problemas a ela. “Uma amiga disse que também teve complicações, teve inflamação, infecção, pus, ficou bem ruim”, completou.

“Cliente da ré presta depoimento durante audiência” (Foto: Vitor Santana/G1)

A cliente foi uma das três testemunhas que prestaram depoimento nesta manhã na audiência de instrução do processo que apura a morte de Maria Brandão. Presidida pelo juiz Jesseir Coelho de Alcântara, a sessão começou às 9h e durou cerca de 1 hora, no Fórum Criminal, no Jardim Goiás.

A cliente relatou ainda que ouviu uma ligação entre Raquel e Maria José quando a vítima estava passando mal. “No momento em que elas estavam conversando, eu estava fazendo o meu procedimento. Eu ouvi a Maria ofegante, reclamando de falta de ar e até disse para a Raquel mandar ela ir ao médico. Mas a Raquel estava super calma, falando que isso era algo normal, para ela comer algo e descansar”, completou.

O filho da Maria José, Leonardo Medrado, também foi ouvido e disse que acompanhou a mãe no primeiro procedimento, feito em um hotel de Goiânia. “Acredito que ela foi iludida, porque achava que o procedimento era seguro. E quando minha mãe começou a passar mal, ela só pedia pra ficar calma”, disse.

Raquel Policena Rosa, apontada como falsa biomédica, e o ex-namorado, Fábio Justiniano Ribeiro, respondem por homicídio com dolo eventual, exercício ilegal da medicina e venda de produto falsificado. Eles foram ao Fórum nesta manhã, mas não prestaram depoimento porque falta colher depoimentos de outras testemunhas.

“Seis das testemunhas do Ministério Público de Goiás não compareceram à audiência. O órgão terá dois dias para defir se vai insistir na oitiva delas ou se serão dispensadas. Além disso, outras sete testemunhas da defesa vão ser ouvidas por carta precatória. Só depois disso o casal prestará depoimento”, explicou o juiz.

O advogado do casal, Tadeu Bastos, explicou que todos os esclarecimentos sobre o procedimento serão apresentados. “Durante todo o período, a Raquel foi dando atenção e orientação para a paciente, mas como disse outra testemunha, ela estava fazendo um procedimento no momento e daria todo suporte necessário em seguida, mas não foi necessário porque ela já tinha procurado um médico enquanto isso”, explicou.

O defensor também reforça que não há provas de que o mau estar relatado por outras pacientes esteja ligado ao procedimento estético. “A própria mulher disse que não procurou o médico, disse que acha que pode ter sido o procedimento, mas não tem nenhum exame que mostre isso”, relatou.

Primeira audiência

Na primeira audiência de instrução do caso, realizada no dia 1º de agosto, o presidente do Conselho Regional de Biomedicina, Roni Castilho disse que, mesmo que fosse biomédica, ela não teria autorização para fazer aplicações de substâncias para aumentar o bumbum na paciente.

 

“Para exercer a biomedicina estética é preciso fazer especialização, uma pós-graduação de, no mínimo 360 horas. Ainda que fosse biomédica especializada em estética, esse é um procedimento médico, não pode fazer esse procedimento. O biomédico estético só pode fazer certos tipos de aplicação na região do rosto, apenas”, disse.

Na ocasião, o advogado de defesa do casal, Ricardo Naves, afirma que não houve a intenção de Raquel em matar a cliente, e questinou o fato da denúncia do Ministério Publico considerar “dolo ou dolo eventual”. O promotor que participou da audiência não se pronunciou. Ele substituiu o titular do caso, Agnaldo Bezerra Tocantins.

“Vejo uma contradição denúncia, que diz que ela não tinha noções mínimas do procedimento. Ora, se ela não tinha noção do procedimento, ela não tinha noção das consequências. É preciso que nós tenhamos cuidado com essa vulgarização de dolo eventual, há uma sutileza para a culpa consciente e dolo eventual”, disse.

Raquel Policena e o ex-namorado foram ao Fórum, mas não prestaram depoimento (Foto: Vitor Santana/ G1)

Procedimento e morte

Ajudante de leilão Maria José Brandão, de 39 anos, morreu no dia 25 de outubro de 2014. Ela tinha feito o procedimento estético no dia anterior e passou mal. O produto utilizado ainda não foi identificado. Na época do procedimento, a Raquel Policena afirmou à paciente que o produto usado era hidrogel.

Em áudios conseguidos, na época, com exclusividade pela TV Anhanguera, Maria José relatou a Raquel que sentia dor no peito e falta de ar logo após fazer a segunda sessão. A ajudante de leilão estava ofegante e fraca, mas a responsável pela aplicação descartou riscos e orientou a vítima a comer “uma coisinha salgada”.

Momentos depois, Maria José encaminhou uma mensagem escrita dizendo: “Tenho medo de AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Minha mãe morreu cedo disso”.

Nesse momento, Raquel deu uma risada e descartou a possibilidade de paciente sofrer do problema. “AVC não dá falta de ar não. AVC é no cérebro, não dá falta de ar. Pode ficar tranquila. Você fuma? Alguma coisa assim? Você costuma praticar atividade física? Pode ficar tranquila que tem a ver com a tensão, não tem nada”, disse.

Na época, Raquel Policena foi presa, mas liberada 10 dias depois. Além dela, o ex-namorado, que segundo a denúncia, a auxiliou nas aplicações para aumento de bumbum, também foi indiciado no caso.

Para a delegada Myrian Vidal, responsável pelas investigações da Polícia Civil, o homicídio foi considerado doloso, pois o casal assumiu o risco da morte de Maria José ao não aconselhar que ela procurasse um médico rapidamente ao começar a se sentir mal.

Apesar do indiciamento do casal cerca de um mês depois do crime, o processo ficou mais de dois anos tramitando no Ministério Público de Goiás antes que fosse feita a denúncia. Isso porque houve uma discórdia dos promotores sobre a tipificação do crime, se tratava-se de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, ou doloso.

Por fim, a ação foi analisada pelo promotor Agnaldo Bezerra Lino Tocantins, da promotoria do Júri, que ofereceu a denúncia por homicídio simples, com dolo eventual.

Causas da morte

Um laudo do Instituto Médico Legal (IML), que foi divulgado em junho de 2015, comprovou que Maria José morreu em decorrência do produto que foi aplicado no seu bumbum, o que causou uma embolia pulmonar seguida de insuficiência respiratória aguda.

Segundo o IML, essa embolia ocorreu após a segunda aplicação do produto, que seguiu pela corrente sanguínea e chegou aos pulmões. “Algo aconteceu que essa substância saiu da região aplicada e foi parar em outros órgãos nobres, como o pulmão, que recebeu esse corpo estranho e fez esse processo de embolia”, afirmou, na época, a médica legista Ívia Carla Nunes.

O gerente do IML, Marcellus Arantes, esclareceu, na ocasião, que, apesar de não ser possível identificar qual produto foi aplicado em Maria José, o resultado não seria diferente. “Qualquer um dos produtos que caísse na corrente sanguínea da forma que caiu e obstruísse os vasos sanguíneos pulmonares levaria a óbito da mesma forma”, explicou.

“Maria José foi levada a hospital com dificuldades para respirar e não resistiu” (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

Escrito por: Redação/G1/Goiás

Fotos: Reprodução