26 de abril de 2020

CATALÃO NAS LEMBRANÇAS; A HISTÓRIA DE ZÉ DE BRITO, O MAIS FAMOSO RETRATISTA DA NOSSA CIDADE

Zé de Brito. O retratista de Catalão. Foto: Acervo – ACL/Reprodução

A Academia Catalana de Letras (ACL) relembra que, tirar retrato em Catalão, na metade do século passado, era uma ocasião muito especial para os moradores. Compareciam ao estúdio do fotógrafo bem arrumados, um pouco apreensivos e posavam sérios para o retrato pessoal ou da família. Nas roças, quando o retratista chegava era assunto para muitos dias. Os moradores ficavam nervosos, meio envergonhados, imóveis, quase sem respirar, aguardando o demorado instante.

Entre os retratistas pioneiros de Catalão, o mais conhecido foi José Pereira de Brito. Montou um pequeno estúdio com laboratório nas cercanias da estação ferroviária, onde trabalhou por mais de 50 anos. Zé de Brito, como era conhecido, retratou quase todos os moradores do município após a metade do século passado.

Na memória de Catalão, de 1880 para trás, praticamente não existiram registros fotográficos. No máximo algumas ilustrações de desenho ou pintura. Isto porque, a fotografia somente foi inventada e aperfeiçoada ao longo do século XIX. Até os registros da independência brasileira, em 1822, foram feitos em desenhos e pinturas. Aliás, uma das primeiras fotos no Brasil, tirada por técnicos franceses, data de 1840. O próprio Dom Pedro II se tornou um apaixonado pela arte fotográfica que despontava no Brasil e no mundo.

Nessa época, em Catalão, quem comandou os destinos do lugarejo, por mais de 40 anos, não tem sequer um retrato. A única descrição que temos do Cel Roque Alves de Azevedo foi feita por um estrangeiro. Em 1844, Castenau (um inglês a serviço do governo francês) passou por aqui, em comitiva, ficando hospedado na casa do chefe político. Sequer um desenho foi feito do lugar e tampouco do coronel. Apenas uma descrição. De acordo com o viajante, Roque Alves de Azevedo era comprido, muito alto, magro e de pernas finas, parecendo uma aranha. Como não se tem imagem impressa dele, restou somente a imaginação.

A partir de 1880 começaram a surgir os primeiros retratos de moradores de Catalão: Antonio Paranhos, José da Silva Aires, Carlos de Andrade, João de Cerqueira Netto, Felipe Estrela e outros. Mas, a fotografia ainda era uma arte restrita a elite social.

Com o tempo, algumas décadas depois, apareceram retratistas ambulantes em nossa região. Visitavam casa por casa na cidade, levando as encomendas de retratos para revelar em laboratórios de centros maiores. Faziam também uma rota aleatória pelas fazendas e sítios da zona rural.

Às vezes, demoravam anos para se ver um retratista por aqui e, quando chegava, pegava muita gente de surpresa. Geralmente encontrava pessoas despreparadas para um retrato, tipo rosto inchado por picadas de marimbondo, meninos com caxumba ou catapora e outras deformações estéticas. O bom retratista não perdia o serviço. Levava os negativos e corrigia, na medida do possível, os defeitos do cliente. Depois de um ano, ou mais, retornava com os retratos. Era uma festa. Impressionante a alegria das pessoas quando viam a própria imagem no pedaço de papel.

Já pela metade do século, algumas cidades do interior ganharam retratistas fixos com laboratório próprio. O fato permitiu às famílias mais pobres o acesso a fotografia e facilitou a utilização do pequeno retrato 3×4 na documentação pessoal. Foi quando apareceu em Catalão o retratista Zé de Brito vindo das Minas Gerais.

Um velho retratista do lambe-lambe. Foto: Acervo – ACL/Reprodução

Antes, em 1932, o jovem José Pereira de Brito, nascido em Araxá, ajudava a revolução constitucionalista de São Paulo, operando no transporte de munição para os rebeldes. Na capital paulista conheceu a máquina fotográfica lambe-lambe e se encantou com o ofício de retratista. Aprendeu a técnica, adquiriu o material, passando a trabalhar como ambulante em Belo Horizonte, Uberaba e finalmente em Catalão onde fixou residência.

Aqui, Zé de Brito optou por visitar primeiro os moradores da zona rural. Percorreu praticamente todo o município com seu equipamento amarrado a uma bicicleta. Ficou muito conhecido na região e se tornou amigo de vários fazendeiros.

O jornalista Alaor Rodovalho, em um informativo da Fundação Cultural de janeiro de 1999, escreveu que a confiança dos fazendeiros no Zé de Brito “era tanta que muitos pediam que ele guardasse dinheiro para os filhos que estudavam na cidade. Pela casa dele passaram muitas crianças que foram apadrinhadas pelo retratista. A pedido dos pais, acolhia meninos e meninas que precisavam estudar em Catalão”. Na época dessa entrevista, o retratista estava completando 86 anos de idade. Não exercia mais a profissão.

No final do século, com o avanço técnico na arte fotográfica, as pessoas foram atraídas pela montagem e coleção de sofisticados álbuns dando lugar a novos profissionais em Catalão. Mas, o pioneiro Zé de Brito continua tendo lugar de destaque na memória fotográfica do município.

 

Escrito por: Luís Estevam – Presidente da Academia Catalana de Letras