28 de agosto de 2020

A CASA CAIU: PREÇOS DE MATERIAIS PARA CONSTRUÇÃO DISPARAM NO MERCADO GOIANO

Escassez de materias-primas, fechamento de indústrias no isolamento social e maior demanda são apontados como causas de reajustes que chegam a quase 100% ou falta de produtos. Foto: Reprodução

O mercado da construção civil, que comemorava o aquecimento na demanda, hoje está apreensivo com a alta nos preços e até a escassez de materiais, do básico ao acabamento. O preço do tijolo quase dobrou e produtos como tubos e conexões podem faltar no mercado em breve. Mas os reajustes afetaram vários produtos, o que já elevou o custo das obras em andamento. O Procon Goiás notificou empresas a apresentarem as notas fiscais de compra e venda de materiais de construção e instaurou 42 processos administrativos de investigação preliminar sobre os aumentos.

Com cinco obras em Goiânia e Região Metropolitana, o sócio proprietário da AGE Construções, Eurípedes Inácio Ferreira, está preocupado com os custos. Ele conta que o saco de cimento, por exemplo, que custava entre R$ 19 e 20, hoje está sendo vendido por R$ 25. No caso dos tubos de PVC, a alta já está entre 25% e 30%, e produtos como ferro e aço já estão em falta no mercado. “As indústrias produziram menos por causa da pandemia e está sendo um ano bom para a construção, por isso hoje há falta de material”, acredita Inácio.

O diretor da rede Cemaco Home Center, Maurício Dantas, conta que o preço do milheiro de tijolo quase dobrou, passando de R$ 400 para R$ 750 no atacado. No caso do cimento, a alta foi de 30%, mas produtos como piso, revestimentos e louças também ficaram mais caros. “As indústrias ficaram fechadas por muito tempo, principalmente em São Paulo. Ao mesmo tempo, as pessoas passaram a fazer mais obras em casa durante a pandemia. Hoje faltam produtos”, destaca Dantas.

Algumas indústrias alegam até problemas de mão de obra, que muitos funcionários foram demitidos ou estão afastados por serem do grupo de risco para a Covid-19. Segundo ele, é difícil saber até que ponto existe especulação, pois as indústrias só mandam avisos por e-mail dizendo que determinado produto subiu e que não atenderão mais pedidos em carteira, ou seja, feitos anteriormente, sem o reajuste. Maurício conta que hoje não possui tijolos em estoque, por exemplo, o que prejudica as vendas em momento de mercado aquecido.


MATÉRIAS-PRIMAS

A produção de matérias de PVC foi muito afetada pelo desabastecimento de resina no mercado, pois o maior fabricante mundial da matéria-prima, nos Estados Unidos, parou de produzir. A única produtora no Brasil, a Braskem, do grupo Odebrecht, também enfrenta problemas. Maurício Porto, da Rebraf, fornecedora de tubos e conexões, lembra que grandes indústrias do ramo, como Amanco, chegaram a suspender as vendas por falta de resina. “Algumas chegaram a cancelar   pedidos já confirmados e chamaram os clientes para oferecer os produtos com novos preços e até limitação de unidade”, conta.

Maurício informa que, nos últimos dois meses, o PVC já teve três aumentos, que passam dos 21%, e vão subir mais de 20% e 25% este ano. Segundo ele, indústrias que ainda aceitam pedidos só estão programado entregas para 70 dias. “Estou há 35 anos neste mercado e nuca vi uma situação tão difícil porque deve faltar material, já que os grandes distribuidores não estão tendo mais”, alerta. Ele lembra que fornecedores de ferro fundido também já pedem até 100 dias para entrega.

O gerente comercial de São Jorge Shopping da Construção, Marcos Reis, lembra que faltam outras matérias-primas, como polietileno, para a indústria de matérias de construção. Além disso, as indústrias ficaram muito muito tempo fechadas e não estavam preparadas para o aumento na demanda depois do isolamento, o que hoje  prejudica o desempenho das vendas. “Há uma ruptura de produtos nas lojas de forma geral, mas principalmente entre os de maior giro. Indústrias que entregavam com 15 dias, hoje pedem de 30 a 40 dias para entrega”, destaca Reis. A alta média entre os matérias de acabamento já é de 80%.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás (Sinduscon-GO), Eduardo Bilemijian Filho, ressalta que já existe um desiquilíbrio dos custos nos contratos de obras públicas, que foram assinados antes com o valor fixo, e nas obras do programa Minha Casa Minha Vida, cujas margens de lucro das construtoras são muito pequenas. Para ele, indústrias estão tentando recompor as perdas que tiveram durante o fechamento imposto pelos decretos de isolamento.

“Muitas indústrias reduziram a produção, alegam que houve um aquecimento da demanda e que falta produto, mas uma parte disso pode ser estratégia para elevar preços”, adverte Bilemjian. Segundo ele, obras de saneamento, que utilizam muito PVC, estão entre as mais impactadas pelos reajustes. Na média de todas as obras, o impacto nos custos chega a 10%. “A Câmara Brasileira da Indústria da Construção faz um levantamento nacional para se posicionar, como se há a possibilidade de importar mais alguns produtos, como aço”, conta. Para ele, não há explicação para a alta de produtos como o tijolo e obras podem atrasar.

 

Escrito por: Redação/O Popular